Ausência de cobrador atrasa deslocamento em BH, dizem motoristas e passageiros

O Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc) segue de olho nas medidas e consequências das cidades que retiraram os cobradores do transporte coletivo. E, acompanhando a situação em Belo Horizonte, podemos notar a insatisfação dos usuários e dos motoristas com a medida que vem sendo implementada.

Evitar o “pulão” na roleta, coibir o desrespeito aos assentos preferenciais, operar o elevador, monitorar as portas de desembarque, acionar o botão de pânico. Essas são atribuições cada vez mais presentes na rotina dos motoristas do transporte público de Belo Horizonte, responsáveis por conduzir com segurança dezenas de pessoas em meio aos riscos diários do trânsito.

O acúmulo de função, após a retirada dos trocadores, estaria atrasando as viagens na capital. A afirmação é dos próprios condutores e dos passageiros. Dados sobre o tempo gasto nos deslocamentos não foram repassados pela BHTrans, mas a Associação dos Usuários do Transporte Coletivo de BH garante aumento de até 40%.

O Hoje em Dia cronometrou um desses atrasos. Ao acompanhar uma viagem da linha 641 (Serra Verde/Vilarinho), na última semana, a reportagem constatou 20% a mais de tempo gasto durante o percurso. A viagem foi iniciada no bairro às 6h30 e finalizada na estação às 7h01.

Estresse
Para quem executa as múltiplas tarefas, o estresse é generalizado. Roberto*, de 38 anos, é motorista de ônibus há 16 e, atualmente, está à frente de uma linha que atende às regionais Leste e Noroeste. A ausência dos trocadores já ocorre há três meses. Segundo ele, além do desgaste físico e mental, o atraso nas viagens chega a quase 30 minutos. “Nunca estive tão estressado. Ainda não posso abandonar a profissão, mas estou olhando outro emprego”.

A responsabilidade pelo manuseio do equipamento também preocupa Jeferson*, de 42 anos, que atua na região do Barreiro. “Não importa se é descida, subida. Se tem um cadeirante, a gente tem que descer e ajudar. E isso é um perigo, porque se tem alguma falha nos freios, pode ocorrer um acidente”.

Sem recarga
Em meio ao entrave sobre a permanência dos agentes de bordo nos coletivos, passageiros também reclamam. Uma das principais queixas é a recarga do cartão BHBus. Os créditos podem ser ativados nas estações e dentro dos ônibus.

“Já desisti duas vezes. Não tem como o motorista sair do lugar dele”, afirma a cuidadora de idosos Carla Regina Fonseca, de 36 anos, que também engrossa o coro sobre a demora nas viagens. Na semana passada, ela diz ter chegado por três dias atrasada ao trabalho.

Em uma das ocasiões, diz Carla, o problema foi a operação do elevador para deficientes na linha 310 (Estação Diamante/3º e 4º seção). “O condutor desceu para ajudar o cadeirante que costuma pegar o ônibus todos os dias, mas o equipamento deu defeito”, contou.

Apesar de não utilizar o serviço, a operadora de telemarketing Gerliane Esteves, de 26 anos, diz que não vê mais recargas sendo feitas nos ônibus. Para ela, o maior problema é o risco de acidentes. “Quando o motorista cobra a passagem, ele não está atento ao trânsito. Qualquer manobra pode ser fatal”, diz Gerliane.

Riscos
Para o vice-presidente da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra), João Luís Pimentel, a dupla função oferece perigo.

“Em um cenário ideal, o motorista deveria cuidar apenas do trânsito. O cobrador o auxilia na operação e, sem ele, as chances de acidentes são maiores. Durante cinco segundos que o motorista deixa de olhar para frente, o ônibus, que pode estar lotado de passageiros, pode percorrer até 50 metros. É muito arriscado”, ponderou.

Retorno
Presidente da Associação dos Usuários de Transporte Coletivo de BH, Francisco Assis acredita que a melhor saída é o retorno dos agentes de bordo. “Se tiram o trocador, é menos um gasto para a empresa. Já que não há investimento em qualidade nos ônibus, seria justo que revisassem o valor da tarifa”.

De acordo com Jardéris Araújo, presidente da Associação dos Trabalhadores em Transporte Coletivo e Suplementar da Grande BH, falta fiscalização. “A BHTrans está deixando os ônibus circularem sem cobrador”.

Já para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário de BH e Região Metropolitana, José Márcio Ferreira, as empresas estão em situação cômoda e o condutor pode ser penalizado por qualquer erro.

A BHTrans respondeu que as ações foram intensificadas nas estações. Segundo a autarquia, 8.726 multas foram aplicadas às empresas por trafegar sem o cobrador. Irregularidades podem ser denunciadas pelo número 156 ou no site da prefeitura (pbh.gov.br).

 

Fonte: Com informações do Hoje Em Dia