Imprensa aborda as dificuldades que passam os Cobradores de ônibus de Curitiba no inverno

 

Em matéria veiculada no final do mês de junho deste ano, o Portal G1 Paraná, abordou as dificuldades que passam os cobradores das estações-tubos no período de inverno.

Veja abaixo a matéria na íntegra, a qual foi produzida pela jornalista Adriana Justi.

Cobradores de ônibus de Curitiba dizem passar frio e não ter banheiro

Trabalhadores falam das condições das estações-tubo em Curitiba. 

Empresa que gerencia o transporte fala que distribui um kit inverno.

 

Nos dias mais frios, os cobradores de ônibus precisam improvisar durante o expediente nas estações-tubo de Curitiba. Acessórios como gorros, luvas e jaqueta são imprescindíveis nesses dias para suportar o ar gelado, segundo eles. O problema é que esses itens não fazem parte do uniforme obrigatório e, consequentemente, não podem ser usados pelos trabalhadores.

Atualmente 1,2 mil cobradores trabalham em 364 estações-tubo em Curitiba e Região. As estações foram instaladas em 1991 e integram o sistema de transporte entre os terminais.

Na sexta-feira (17), dia com mínima entre 7ºC e 8ºC, o G1 conversou com dez cobradores dessas estações na capital e todos reclamaram do problema. Eles disseram que a empresa que gerencia o serviço, Urbanização de Curitiba S/A (Urbs), cobra o uso do uniforme e não admite acessórios extras ou roupas coloridas. "No ano passado eles até ofereceram um kit inverno, mas é muito fraco. Por isso a gente improvisa com outras roupas, mas em alguns casos nós podemos ser até multados", reclama um deles, que preferiu não se identificar. Os profissionais também disseram não ter um banheiro para usar.

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"Tá faltando tudo. O agasalho do uniforme é muito fino, não tem como trabalhar só com ele no inverno. Eu acho que além disso, eles precisam fazer uma cabine nos tubos porque o vento passa cortando aqui", reclama a cobradora Denise do Rocio Meira. Para não passar frio, ela vestiu uma jaqueta preta por cima do agasalho do uniforme. "Eu sei que não pode e que a empresa [Urbs] reclama quando a gente usa, mas não posso ficar passando frio. Se isso acontecer, quem vai ser prejudicado serão eles [a empresa] porque eu posso ficar doente e não venho trabalhar". A cobradora trabalha na função há sete anos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Estações tubo foram instaladas em 1991 em Curitiba e Região (Foto: Adriana Justi / G1)

Já para cobrador Luciano Gomes da Silva, de 31 anos, que trabalha em uma estação-tubo em frente ao Shopping Mueller, o maior problema não é o do uniforme, mas sim, o dos banheiros. "Eu compreendo o fato da empresa não ter instalado uma cabine nas estações para evitar o frio porque no verão o calor também é intenso", conta. "Trabalho perto do shopping, mas isso não resolve nada para mim quando sinto vontade de ir ao banheiro. Eu começo a trabalhar às 5h30 e o shopping só abre às 10h. Sinceramente, se de repente eu precisar muito, eu abandono tudo e vou procurar um lugar para me aliviar", desabafa. Durante a entrevista, o funcionário tomava um copo de café com leite para se aquecer e não quis ser fotografado. "Só assim para esquentar né?", brincou o cobrador.

Funcionário também reclamou do uniforme

(Foto: Adriana Justi / G1)

Outro funcionário entrevistado, Adão Milton da Silva, que trabalha na função de cobrador há 15 anos, também reivindicou melhorias. "Eu vim bem agasalhado, só o uniforme não dá". Ele relatou que nunca foi multado por usar roupas e acessórios que não façam parte do uniforme, mas que já teve colegas que foram punidos. Isso é muito complicado", aponta.

Para o presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores (Sindimoc), Anderson Teixeira, a questão do kit é uma medida paliativa. "Eu não consigo ver condições de conforto para suportar o frio dos trabalhadores com esse kit", reclama. "Nós estamos tentando um acordo com o sindicato patronal, o Setransp, para tentar acrescentar uma jaqueta pelo menos". Até a publicação da reportagem a proposta ainda não tinha sido aprovada pela Setransp, segundo Anderson.

A Urbs informou que os funcionários trabalham seis horas por dia e que dispõem de um intervalo de 15 minutos. Nesse intervalo, eles podem ir ao banheiro. Caso precisem fazer isso fora desse período, há um cobrador substituto que circula pelo sistema, segundo a empresa. Se em último caso, não der tempo de acionar esse substituto, a empresa sugere que o funcionário peça ajuda para o colega mais próximo. A orientação é que esse colega fique vistoriando o local até que o trabalhador possa ir ao banheiro.

Com relação ao uniforme, a Urbs declarou que kit inverno é composto de gorro, luva e uma blusa de lã e que é disponibilizado desde 2012.

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Demissão
O ex-cobrador Ari Ribeiro dos Santos afirma que foi mandado embora após ter colocado um cobertor em uma estação-tubo para evitar o frio. O caso aconteceu em agosto de 2012. O funcionário tinha sido contratado pela empresa Auto Viação São José e atuou como cobrador durante 14 anos. "Eu montei uma espécie de cortina porque não aguentava mais o frio. Eu também reclamei e sugeri melhorias com relação ao uniforme e às estações-tubo em canais de televisão e de rádio. E um tempo depois, sem justificativa, eles me mandaram embora", explica o ex-funcionário.

"Me senti desrespeitado como cidadão. Com todo respeito, mas o uniforme era muito fraquinho. Com certeza, não é compatível com o frio que faz nessa cidade", acrescenta. Ele disse também que se sentiu injustiçado e que entrou com um processo contra a empresa por danos morais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A empresa Viação São José foi procurada pela reportagem, mas não quis se manifestar sobre o motivo da demissão do funcionário.

Estação-tubo em Curitiba  (Foto: Adriana Justi / G1)